União das Freguesias de Trouxemil e Torre de Vilela União das Freguesias de Trouxemil e Torre de Vilela

História

Trouxemil e Torre de Vilela

A união de freguesias foi constituída em 2013, no âmbito de uma reforma administrativa nacional, pela agregação das antigas freguesias de Trouxemil e Torre de Vilela, sendo a sua sede em TROUXEMIL.
Diário da República, 1.ª Série, n.º 19, Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro (Reorganização administrativa do território das freguesias). Acedido a 2 de fevereiro de 2013.
 

TROUXEMIL
 
De origens ancestrais, a primeira referência a esta freguesia data de 883, num documento de doação de Adefonsus Sisnando Epíscopo, em que se lê o seguinte: “Villa in ripa de fluvio viast vcum ecllesia sanct Martini e Villam Cresxeiniri”. (Livro Preto, orig.  fls 7)
Na confirmação desta doação, por Fernando Magno, em 1063, encontram-se referencias à mesma vila, embora sob a forma de Creixemiri. A identificação, porém, acha-se rigorosamente estabelecida, e é matéria de facto que a freguesia de Trouxemil compreendia para além da sede paroquial, as povoações de Adémia, Alcarraques, Cioga do Monte, Fornos e Salgueirosa.
 
Alcarraque, nome árabe de pessoas que se encontra nos documentos acima parcialmente reproduzidos, formou o topónimo Alcarraques, seu genitivo.

Fornos, nome certamente derivado da existência de fornos de cal naquele lugar, encontra-se a seguinte referência, no livro das Calendas, de 1233, “Vinea que vocatur Fornos cujus vineae uti termini in oriente fluvius de vargena in cocidente via publica…”
 
Adémia (Ademeas no Censo de 1527) é um topónimo formado a partir do nome comum que, segundo Vitércio e outros lexicógrafos, significa terra frutífera e rendosa entre o monte e a várzea suscetível de várias culturas, significação que conduz perfeitamente com a natureza do solo do local.
Os lugares que, atualmente, se designam por “Adémia de Cima” e “Adémia de Baixo” pertenciam, até finais do século XIX, este à freguesia de São João Baptista de Santa Cruz e, aquele, à freguesia de São Bartolomeu, ambos da cidade de Coimbra. Com a reforma administrativa paroquial, operada em 1890, estas duas povoações passaram a integrar a freguesia de Trouxemil.
 A povoação de Adémia de Baixo tinha Ermida e foi cemitério do lugar de 1617 a 1861, atualmente designada por Capela de São João. A pedido do população local, retomou a celebração da “Santa Missa”, em 1873, por requerimento do Bispo-Conde de Coimbra, após visita ao local do Senhor Arciprete de Barcouço.
O lugar de Adémia de Cima tem capela, inicialmente denominada de Nossa Senhora da Paz, conforme Portugal Antigo e Moderno de Pinho Leal (vol IX), e posteriormente de Nossa Senhora da Luz.
 Ambas foram cemitérios dos lugares até a criação dos cemitérios públicos, por força da legislação de 1846, que proibiu as inumações no interior das igrejas e capelas.

Outros documentos referenciam os caminhos de Santiago, que atravessavam a Freguesia partindo da Pedrulha, pelos sítios de Alvade, Adémia, “Traixemil”, em direção ao Norte de Portugal. O nome de Adémia surge indicado nos dicionários contemporâneos como “terra fértil para cultivo, entre o monte e a várzea”.
  
Em documentos do século X, do Mosteiro do Lorvão, Trouxemil é referida como «Crescemiri» no ano de 883, modificando-se o topónimo para «Creixemirs» em 968, durante a 1ª Reconquista. Alguns autores relacionam Trouxemil com origem germânica, referindo a sua terminação «mil» (gótica). Este lugar teria sido uma propriedade rústica paralelamente à da suevo-vísigótica Aeminium. Outros autores referem que a Villa existiria já no tempo de Afonso III das Astúrias que a conquistou aos Mouros.
 
Depois da expulsão dos árabes, um presor de nome Crescimiro povoou-a com gente cristã. Atenda-se ao facto de no ano 883, o rei Afonso III ter doado este lugar à Catedral de Santiago, o que de certa maneira se compreende, pois ainda hoje o lugar tem o mesmo orago.
 
Na carta de venda das celendas de 1094, na página 480, surge citado o nome de “Traixmii Freixede”. No que diz respeito à forma “Trouxemil”, afere-se que existe total identidade entre este e os topónimos designados nesse documento, sob as formas “Creixemin” e “Creixeis”.
 
Proveniente de um vocábulo medieval de origem germânica, facilmente nos apercebemos das evoluções fonéticas que originaram os topónimos Creixemil e Crexemiris, que frequentemente ocorrem no Norte, e Trouxemil, mais ao centro do país.
 
No Censo de 1527, lê-se já Trouxemil e, na Corografia do Padre Carvalho, Trouximil. 

 
TORRE DE VILELA
 
Freguesia independente desde 1876, antes ligada a Brasfemes e ao Mosteiro de Lorvão. Nos primeiros documentos oficiais, esta freguesia aparece sob o nome de Vilela. A primeira vez que tal acontece é em 963, ou seja, durante a primeira reconquista cristã. 
Desde muito cedo, foi pertença do Mosteiro de Lorvão, o pároco era da apresentação do Mosteiro. A Lorvão pertencia Torre de Vilela ainda no século XVIII. Esteve anexada à de Brasfemes até 1876, tornando-se freguesia independente a partir daí. 
 
Nasceu em Torre de Vilela, em 1732, José Seabra da Silva, figura importante do panorama político português ao longo da segunda metade do século XVIII, viveu praticamente durante todo o período de reformas do absolutismo setecentista. Um retrato breve daquele que foi o maior vulto da história de Torre de Vilela. Nascido em 31 de Outubro de 1732, no lugar de Vilela, foi batizado a 17 de Outubro do mesmo ano na Ermida de S. Domingos, desta freguesia. Frequentou, a partir de 1744, a Universidade de Coimbra, ali se doutorou em 1751. No ano seguinte, é convidado para Desembargador da Relação do Porto e pouco depois para ajudante da Secretaria de Estado, com a função de coadjuvar o 1.º Ministro. Depressa subiu José Seabra da Silva, rapidamente caiu em desgraça. Por decreto de 17 de Janeiro de 1774, é demitido de todos os cargos, preso e levado para o Brasil. A despótica vontade de Sebastião José de Carvalho e Melo não foi, ainda hoje, muito bem compreendida pela historiografia. Voltou a Portugal depois da queda do Marquês de Pombal. É de novo nomeado para Ministro do Reino (1788) e de novo demitido, por D. João VI (1799), desta vez por vingança pessoal do monarca. Além de ter servido o País das mais diversas formas, José Seabra da Silva foi ainda fundamental no estabelecimento do quadro ideológico nacional setecentista. Juntamente com intelectuais como António Pereira de Figueiredo ou Ribeiro dos Santos, definiu a teoria política regalista, que serviu como suporte legal e moral à tutela da instância religiosa pelo poder civil. Afinal, um dos maiores fundamentos do Despotismo Iluminado do Marquês. 

Falar de Torre de Vilela é falar de José Seabra da Silva, é falar também da sua igreja paroquial. Dedicada a S. Martinho, é um templo modesto do século XVII, reconstruído na centúria seguinte. De origem, conserva o arco cruzeiro, decorado de recruzetados e de folhas, e pouco mais. A escultura do padroeiro, seiscentista, é de pedra e encontra-se no altar-mor. 
 
Da história romanesca de Torre de Vilela, Pinho Leal conta-nos um curioso acontecimento, passado no seu tempo. Que tem tanto de verosímil ou inverosímil como têm as habituais "estórias" do autor: "Maria de Jesus, mulher de Joaquim de Figueiredo, d'esta freguesia, deu á luz, em menos de um ano, cinco filhos! Nos fins de dezembro de 1873, teve três filhos, e em 13 de dezembro de 1874, teve mais dois". Haja fertilidade!

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